Última matéria


O fim de semana foi para despedidas!
No domingo, dia 30, fiz minha última matéria como jornalista.
O aviso-prévio do jornal onde fui repórter por dois anos, encerrou-se hoje, segunda-feira, dia 31 de agosto.
Agora é a contagem regressiva para iniciar outro trabalho. A ansiedade aumenta.

Veremos o que virá!



fotos: Alan Azevedo

Mensagens de outros mensageiros



Desde que fiquei sabendo que eu iria embarcar, passei a varrer a internet para procurar informações das mais variadas: páginas de ex e atuais tripulantes; sites de dicas para crew; comunidades; referências sobre bell boy (raríssimas por sinal [por isso criei este espaço].); entre um milhão de outras informações (que, vocês sabem, são muitas mesmo)!

Entre contatos de contatos, cheguei à Vanessa Cunha, da cidade de Santos, que dava aula numa escola de idiomas na mesma Cidade. Minha amiga do trabalho, Carol Binato, indicou-me para recorrer a ela, pois havia atuado recentemente na recepção do navio Opera da MSC e poderia me dar muitas boas dicas, pois é um setor bem próximo de onde eu, bell boy, atuarei.

No último dia 6 de agosto, após muitos e-mails trocados, fiquei sabendo que a Vanessa foi chamada para um novo contrato (convocação essa, acredito, que tenha sido inesperada para ela, pois estava como professora de inglês em terra). Sua missão: um novo contrato a ser cumprido desta vez no Musica! O mesmo navio gigante que eu irei em 25 de outubro. E ela acabou escrevendo para mim:

"Oi!

Desculpa a demora para te mandar uma mensagem (você vai entender como é isso, quando vier pra cá!!!).
Acho que você vai gostar do Musica, Eli, eu estou adorando!
Tem dois bell boys brasileiros aqui – o Marcelo e o Luiz. O Luiz já está há 10 meses e falou que vai te ensinar tudo!

Beijos, estamos te esperando a bordo!"

O recado foi direto, mas teve um significado especial. Foi diferente, pois é uma mensagem de alguém que está a bordo agora, que está no setor onde atuarei, com pessoas com quem certamente irei trabalhar junto! É uma loucura me imaginar nesse cenário (que louco: ela disse "estamos te esperando!").
Pois é, para mim, às vezes, sinto que a ficha ainda não caiu. Mas é questão de tempo e isso cada um tem o seu: o tempo, o momento! Certos e sábios! Acho que só me darei conta, quando estiver entrando no gigante, rumo ao trabalho!



Falando de dicas, deixo aqui algumas que encontrei nessas minhas visitas a sites, conversas por e-mail e contatos gerais (lógico, voltadas ao cargo de bell boy, principalmente):

-É preciso ter paciência na temporada brasileira: os brasileiros não estão tão habituados a viajar de navio e, por isso, ficam muito perdidos e são muito exigentes, pois acham que o navio é igual a um hotel e que eles têm direito a tudo (sabe a lei do “tô pagâââno?”)...;

-A diferença entre o Opera e o Musica é que o Musica é muito maior, por ser mais novo que o Opera. Os navios maiores tendem a ser ruins por causa da organização (é a mesma regra do nosso quarto: quanto maior, mais espaço para acumular bagunça e/ou também mais espaço para ser limpo/organizado/arrumado);

-O bell boy é o mensageiro do navio: tudo relacionado a envio de mensagens, impressão do jornalzinho do dia e cópia de documentos é ele quem faz. Por isso, se vai estar sempre andando pelo navio, além de conhecer todos os pontos dele, inclusive a ponte de comando;

-Os bell boys ficam no Print Shop, um lugar cheio de impressoras. Quando são poucas cópias a recepção mesma é quem faz, mas quando são cópias em grande quantidade, os bell boys as fazem. Todas as mensagens que são entregues nos quartos são impressas por bell boys:
*jornal do dia
*jornal das excursões
*promoções das lojas; spa etc
*mensagem para entregar documento na recepção;

-Depois de impressas as cópias, os bell boys também entregam para os camareiros colocar nos quartos;

-Na recepção há uma caixinha com o escrito "Bell Boy". As recepcionistas colocam nessa caixinha mensagens para entregar num determinado quarto, recibos, entre outras coisas a serem entregues em outros setores do navio. Essas coisas sempre cabem ao bell boy entregar;

-À noite, para impressão do programa (jornalzinho com notícias do navio, de roteiros do dia seguinte e etc), uma pessoa que atua na função de “program hostels” entrega a via original e os bell boys imprimem a quantidade de cabines do navio. Depois de prontos, os programas são colocados na mesa, onde os camareiros pegam a quantidade de cabines da sua seção, e as colocam por debaixo da porta do passageiro (nenhum camareiro pode terminar seu serviço sem antes entregar o programa do dia seguinte nas cabines dos passageiros E nenhum bell boy pode dar o expediente por encerrado, antes de imprimir o tal programa). Há dias em que a “program hostels” elabora o programa tarde demais e libera as originais por volta da meia-noite (esta será uma noite de muito estresse, pois por volta de 50 camareiros precisam desse programa pra dormir e eles acham que a culpa da demora é do bell boy!);

-É possível conseguir sair umas horinhas pra conhecer os lugares sim: com o tempo acostuma-se a só ter 3 horas pra passear, mas mesmo assim, dá tempo de fazer muita coisa;

-Entre os piores erros que um bell boy pode cometer é não saber onde fica um setor no navio, pois isso quer dizer muita demora para entregar a mensagem. Não obedecer a um pedido; demorar com esse pedido; em caso de emergência, não chegar a tempo; não estar com seu bip a tira colo; um bell boy NUNCA pode demorar demais na entrega de um pedido. Uma coisa é certa: o bell boy tem de ser sempre rápido. Há quem diga que andar pelo navio durante o dia todo pode até entediar (depende de cada um [eu não acho{eu acho}]);

-Lado positivo: o bell boy conhece o navio inteiro! Ele andará por ele também o dia inteiro, todos os dias. Outros pontos a favor e mais fáceis de administrar são horário de trabalho, pausas (break time), além de não precisar servir ninguém e nem limpar nada!;

-O dia do embarque (a cada inicio de cruzeiro) será de muito trabalho. O bell boy faz de tudo, por exemplo: se um passageiro precisa de cadeira de rodas, o bell boy leva a cadeira até o passageiro e o leva aonde ele precisar. Ainda pode precisar ajudar a instalar os computadores no check in. Enfim: ajuda todos;

-Pode ter certeza, você vai se divertir muito nessa função, porque o bell boy fica sabendo de tudo!;

-A cabine (sua casa) tem duas camas, um balcão, um armário e o banheiro. Todo o espaço é feito para duas pessoas: assim você vai ter um lado do armário, do balcão, do espelhinho do banheiro e etc. Detalhe: só pega a cama debaixo do beliche (as de cima são próximas do teto) quem chega primeiro na cabine, provavelmente você começa indo para a cama de cima;

-Entre principais conselhos que recebi (obrigado a todos), destaco um da
Cristiane Lucas de Castro:
“Curta bastante tudo o que você viver, haverá horas em que você irá sentir-se humilhado e pensará ‘não estudei tanto pra estar aqui escutando essas coisas’. Tudo vai valer a pena. O caminho pode parecer duro, um pouco escuro e sem janelas, você não verá muitas flores, mas no final, você vai entender que tudo o que você passou foi grandioso e só assim se sentirá lutador, guerreiro, senhor do seu destino, vai sentir que nada mais pode te abalar, afinal, se não caiu na maior dificuldade, não vai será uma chuvinha que te derrubará! Desejo-te muita boa sorte e uma cabine com janela. Curta, curta e curta cada break time que você tiver, cada crew party (festa semanal para os tripulantes), curta cada Buzios, Salvador, Ilha Bela. Tudinho! Quando você por os pés no crew mess (refeitório dos tripulantes), com certeza vai achar que não aguentará até o final do contrato: BOBAGEM! Você aguenta: NÃO desista nunca!”.




É isso: mais um e-mail extenso, porém, com dicas que podem ser valiosas (vindas de quem já passou por isso) para pessoas que, como eu, estão prestes a embarcar em sua primeira viagem, rumo ao trabalho em navio!

Success!

Fotos: Masterfile

Dois meses para embarcar

Dia 25 de agosto. Faltam 60 dias para o embarque e início do trabalho de navio. Dois meses para um voo rumo a Veneza, na Itália e embarque no MSC Musica, em 25 de outubro.
Em se tratando de ansiedade, as coisas já estiveram piores antes, quando cheguei a ficar quatro dias inteiros com o coração acelerado. Assustador. “Pronto, agora não poderei embarcar, pois tenho problema de coração”, foi o que pensei. Coisa de ariano. Isso na verdade era um certo medo da possibilidade de haver algo que impedisse o meu embarque, de fato. Logo passou, quando tive os resultados da bateria de exames em mãos, confirmando que eu estava sim, livre/apto para embarcar.
Mas...o caminho não foi leve, nem fácil, porém nada de matar...(sobretudo para mim que moro na Baixada Santista [vi muitos que vinham de todo o canto do Brasil, tentar uma vaga aqui também]). Pois as principais agências ficam aqui ou ainda no Sul brasileiro.

Novembro/dezembro de 2008. Comecei efetivamente a pensar na ideia de embarcar quando minha amiga Carla Yabico me ligou e depois de uma longa conversa propôs: “O que você acha de tentarmos esse lance de navio??”. Topei (Carla tem uma prima [Marcelle Campregher] que acabara de voltar de uma temporada no Opera, do MSC, trabalhando no shopping e muito nos ajudou em opiniões, incentivo e orientações). Lógico que essa conversa já havia ocorrido antes, afinal a Carla tentava ir para ao Japão, terra onde está um de seus irmãos, ou investir na tripulação de navio. Eu topei, quando vi que era possível para mim também, que não era um bicho de sete cabeças.

Janeiro 2009. A partir daí os custos começaram. E não são/foram poucos. Tempo também é um requisito necessário: você embarca à medida que vai agilizando seus documentos/processos. Tentei inicialmente pela Infinity, uma ótima agência de recrutamento, que trabalhava na época com mais de dez empresas de navios. Passei por uma entrevista em inglês com a agência, depois participei de curso preparatório para crew (tripulantes). Paguei R$ 200 e suguei todo tipo de informações de como é o trabalho a bordo, além de algumas noções sobre bar (a função que eles me indicaram). O problema lá é que eles me empurraram para uma entrevista com uma companhia americana e rigorosa – a Royal Caribbean. Para mim, deveriam ter atentado que não tenho experiência em contratos anteriores em navio e nem trabalhei fora do país (tudo o que me foi exigido pelo entrevistador, que era muito bom, compreensivo e competente, mesmo ante meu nervosismo e despreparo). Enfim, acho que a Infinity poderia ter me aconselhado a um cargo melhor e de acordo com meu perfil e com o que eu podia oferecer, mesmo que fosse preciso esperar mais um tempo, afinal, eles estavam com 11 companhias de cruzeiros, que recrutam o ano inteiro. Mas valeu a experiência. Pude ver como é o “top” do mundo em que quero me enquadrar. Sempre aprendizado, certo?

Fevereiro de 2009. Após o desgaste do processo na Infinity (sobretudo por quatro dias inteiros perdidos no trabalho), fui correr para fazer o STCW (Standards of Training, Certification and Watchkeeping for Seafarers [algo do tipo convenção sobre padronização e certificação, e treinamentos mínimos requeridos aos marítimos]). Foram cinco dias (segunda a sexta-feira), com uma maré de conhecimentos para todos nós: vida a bordo, informações sobre o navio, posturas de segurança, combate a incêndio, técnicas de salvamento, primeiros-socorros e muito mais. Tivemos nesses dias contatos com diversos tipos de pessoas: desde experientes em contratos anteriores, a marinheiros de primeira viagem, pessoas de outras cidades e também de outros estados. O custo disso tudo: R$ 690 (até pouco tempo era metade disso e menos dias de treinamento). Mas valeu a pena, em conhecimento, amizades e ainda mais para se ter certeza de que quer (no meu caso) ou não quer essa vida de extrema ralação a bordo.

Março/abril de 2009. Depois do curso feito, me senti encorajado a tentar em outra agência, ainda em Santos, a Fatto Brazil, onde, desde o início, senti uma proximidade muito grande. Um atendimento mais direto, onde eles conhecem cada agenciado. Eles atuam unicamente com a MSC Crociere (Mediterranean Shipping Company), o que torna mais ágil o processo seletivo e faz com que a própria agência elimine alguns processos burocráticos, afinal tem a visão e a prática dos padrões da MSC Cruzeiros. Passei por uma nova entrevista de teste de nível de idioma, para saber em que cargo poderia atuar. Recebi três indicações, assim como quando você opta no vestibular, por exemplo. Então, minha primeira opção, indicada por eles, seria para “bell boy”, depois algo como “buffet boy” ou ainda, em terceira opção, “pool boy” (serviços no setor de piscina). Acredito que por eu não ter experiência específica em bares, restaurantes, acabei sendo indicado para outras onde não sejam requeridos atributos específicos, mas sim idiomas (tenho um inglês com o qual venho sobrevivido até então), comunicabilidade e disposição para trabalhar (qualquer cargo exige este último quesito). Lá é assim: você é analisado e passa a fazer parte de um perfil, passando ainda a aguardar assim que surgir uma vaga, durante o ano todo. Sei que parece demorado, parece que a data nunca chega, mas faz parte. Você espera. Além do mais, neste tempo, você vai adiantando os documentos necessários.
Da confirmação da posição que eu assumiria a bordo à confirmação da data de embarque, foram muito tempo e dinheiro. Dinheiro para muitas e diversas xerox (grande parte coloridas); idas e voltas à agência (muitas também); passaporte (eu já possuía); vacinas contra febre amarela e tétano (com emissão de certificado da Anvisa); fotos; curso STCW; sem falar na bateria de exames a serem feitas, que pode ser realizada pelo SUS, no postinho perto de casa (isso se você tiver um bom prazo para entregá-los [que não foi o meu caso, ou seja: desembolsei quase R$ 400 para urgência nos resultados, pois demorei demais para solicitá-los]), bateria esta que deve ser traduzida em uma ficha específica para a companhia. Enfim, posso dizer que em tudo, tudo, gastei uns R$ 2 mil. Mas eu estava consciente de que assim seria.

Maio de 2009. Depois de tudo isso, eles me deram uma data de embarque (para 25 outubro, em Veneza). Mas somos alertados desde o início que mesmo com uma data, podemos ser chamados para outro embarque antecipado, de acordo com a necessidade da companhia. Recebi três ligações, sempre à noite e inesperadas e ainda com necessidade de resposta urgente, todas com proposta para embarque na Itália (entre julho, agosto e setembro). É uma loucura, pois imagina alguém te ligar e dizer: “Oi temos uma vaga para bell boy, para embarque em Gênova, Itália, daqui a três semanas. Você quer?”. Mas recusei todas, afinal já estava com o meu dia certo e, como estava trabalhando, não tinha como sair do nada do emprego e cair em alto-mar. Se eu recuso, eles seguem para outro candidato, que pode aceitar melhor que eu (muitos estão desempregados e desesperados para embarcar).

Agosto de 2009. Cá estou eu, com confirmação e esperando apenas o embarque. A ansiedade baixou, quase não há. Em substituição, apenas o sentimento de muita coisa a ser feita. Muita mesmo. Detalhes como mala, mochila, o que levar e não levar e/ou preparar: um mundo de necessidades/dúvidas. Ganhei da amiga Clélia Riquino, um verdadeiro kit de sobrevivência no navio. Tudo em italiano: um guia rápido de frases voltadas a turismo, um dicionário e um livro de conjugação de verbos! Um presente muito bom, vindo de uma expert em gramática e letras, com quem adquiri o hábito de trocar dezenas de emails toda a semana. Um prazer. Uma mentora. O italiano será um elo importante, além do inglês, uma vez que Itália é a bandeira/origem do navio e a nacionalidade de muitos chefes de setores.
Após certeza total, pedi demissão no meu emprego, o jornal Gazeta do Litoral, aqui de Praia Grande mesmo, onde sou repórter há dois anos, desde que me formei (antes, havia passado por estágio na Assessoria de Imprensa da Prefeitura daqui também ). Recebi todo o apoio do chefe, que deu conselhos e, visionário como é, sabe da importância de investir em novas experiências, enquanto essas estão ali, disponíveis para você. Aqui no jornal, fico até a segunda-feira, dia 31 de agosto. O clima é de despedida já.Ainda em setembro, quero fazer uma viagem rápida ao nordeste, visitar parentes que desde cinco anos de idade não vejo, família da parte do meu pai e que ele gostaria que me conhecessem. Enfim, uma correria em dois meses!

Uffa...
O texto foi longo, mas o deixo registrado aqui, à cerca de minha experiência, desde que resolvi dar uma pausa na vida de jornalista recém-formado, para aventurar-me em novos conhecimentos, novas vivências. Informações específicas, dados e tudo o que é preciso saber para embarcar, pode ser pesquisado em todos os blogs linkados aqui ao lado, na seção “De outros mares”. Um deles, que todos nós blogueiros e futuros tripulantes recorremos um dia, é o Vida de Tripulantes.

:-]

O bell boy



Bell boys são conhecidos basicamente como mensageiros de hotel. São como office-boys em escritórios, encarregados de fazer os mais diversos serviços, entre eles, no caso do hotel, o de levar as malas dos turistas. Uma característica muito vista em filmes é aquele rapaz de uniforme pomposo e com chapéu típico (que não é comum ser visto mais por aí). No caso de um bell boy de navio, estará encarregado: de andar a embarcação inteira, levando recados, contas, impressos da companhia (jornais, informativos de passeios turísticos do dia seguinte e etc); conduzir passageiros que têm dificuldades de encontrar suas cabines, em meio às inúmeras existentes em diversos pisos, além de ajudar com malas e afins. Enfim, será um faz tudo. Quando fui à entrevista na agência Fatto, uma das perguntas que o recrutador, em inglês, fez, era se eu estava preparado para, inclusive, carregar caixão de algum passageiro que venha a morrer a bordo, pois essa também é a função do bell boy: levar o caixão até a família. Achei que estava entendendo errado, mas não. Mas isso, lógico, trata-se de um extremo da profissão – não ocorre todo dia.



História – Era tradição em hotéis (hoje só se vê em empresas mais conservadoras/antigas) a presença de um sino (bell) no balcão para acionar o bell hop, como eram chamados os bell boys antes (ou ainda “paquetes”, em Portugal). A ideia é de que o bell (sino/sineta/campainha) toca e o jovem funcionário deve dar um hop (pulo) imediato de onde estiver, para atender o pedido. Normalmente nessa função há mais garotos, porém em navios há ainda bell girls, já que, as funções não são exatamente para carregar peso, mas serviços mais gerais.

É comum ainda haver em navios o bellman, que costuma ter a função específica de levar de fato as malas todas em dias de embarque. São os homens mais fortes e que pegam mais peso.

Rapidez, rapidez, simpatia, eficiência e mais rapidez. Ingredientes fundamentais para um bom bell boy. Um bell boy costuma ser muito visado, pois no navio atua entre o pessoal do crew (tripulantes em geral), entre staffs (chefes e altos cargos) e guests (hóspedes). E deve conhecer e se deslocar facilmente entre os diversos pisos, setores, salas, cabines e tudo mais que há a bordo.

Ainda sobre a questão de tudo ver e ouvir, há um exemplo interessante de um bell boy conhecido. Theodore Judd Serios (27/11/1918 – 30/12/2006) foi um bell boy de Chicago, que em 1960 ficou conhecido por um talento seu: fotografar o pensamento das pessoas, por meio de uma máquina Polaroid. A técnica de Serios, que era um conhecido sensitivo, consistia em criar um mecanismo que dava às imagens uma margem escurecida, daí a impressão de serem pensamentos.

Bell Boy é ainda o nome de uma música do The Who, no álbum Quadrophenia e também o nome de um filme clássico do humor: “The Bellboy” (Mensageiro Trapalhão). Ele foi escrito e dirigido por Jerry Lewis, em 1960.





Fotos: Masterfile

Este blog

Terça-feira, dia 11 de agosto de 2009...

Criei este espaço, além do blog habitual, que sempre tive, para tentar registrar as aventuras, descobertas, aprendizados, conhecimentos, notícias e mais um mar infinito de nova bagagem.
Estou prestes a me tornar bell boy de navio. Mensageiro, como os de hotel. Farei parte da tripulação do navio Musica, da MSC. Meu embarque será dia 25 de outubro, conforme contagem regressiva no meu outro blog. O primeiro destino será Veneza, na Itália, e então serão cerca de nove meses em alto mar. Pelas minhas previsões, embarco, trabalho duas semanas pelo Mediterrâneo, e logo tem início a temporada América do Sul, o que me promete estar constantemente em terras brasileiras e perto de casa, sempre no porto de Santos.
Neste momento, me preparo para dar uma pausa na vida de jornalista, para, uma vez a bordo, aprender, conhecer, experimentar. E trabalhar. Muito!!! Para mim, será uma questão de desafios, aventura e meta$$! Será hora de trocar temporariamente o endereço em terra, em Praia Grande, São Paulo, para ter diversos e incertos outros, em mares e portos diferentes.
Espero ter aqui um espaço para, quando estiver no grande mar e em outras terras, eu possa me comunicar com aqueles que aqui deixarei. Pretendo, ainda, deixar esse espaço para tirar dúvidas daqueles que, futuramente, assim como eu, pretendam embarcar nesta forma de vida.
Em meio a um turbilhão de expectativas ante o novo, para abrir esse espaço, deixo aqui algumas músicas que têm a ver com essa minha mudança (que posso dizer, é radical!).

“Aceitei, me engajei,
Fui conhecer a embarcação.
A popa e o convés,
A proa e o timão.
Quando eu dei por mim,
Eu já estava em alto-mar.
Sem a menor chance,
Nem maneira de voltar.
Pensei que era moleza,
Mas foi pura ilusão.
Conhecer o mundo inteiro,
Sem gastar nenhum tostão.”
(“Melô do Marinheiro” - Bi Ribeiro/João Barone)



“Eu vou por entre fotos e nomes,
Os olhos cheios de cores.
O peito cheio de amores vãos.
Eu vou!
Por que não? Por que não?”
(“Alegria, Alegria” - Caetano Veloso)



“Mas sem parar pra pensar,
Sigo estradas, sigo pistas pra me achar.
Nunca sei o que se passa
Com as manias do lugar.
Pelas minhas trilhas você perde a direção,
Não há placa nem pessoas informando aonde vão.
Penso outra vez, estou sem meus amigos...”
(“Antes que seja tarde” - John/Fernanda Takai/Tarcísio Moura)



“Não sei mais bem onde estou
Nem onde a realidade
Ah, se eu fosse marinheiro!
Seria doce meu lar.
Não só o Rio de Janeiro,
A imensidão e o mar.
Leste, Oeste Norte e Sul.
Onde um homem se situa,
Quando o sol sobre o azul,
Ou quando no mar a lua.
Não buscaria conforto nem juntaria dinheiro,
Um amor em cada porto.”
(“Maresia” - Marina Lima/Antonio Cícero)



“A voz vibra e a mão escreve mar.
Vou partir a geleira azul da solidão
E buscar a mão do mar,
Me arrastar até o mar, procurar o mar!
Mesmo que eu mande em garrafas, mensagens por todo o mar.
Meu coração tropical partirá esse gelo e irá
Como as garrafas de náufrago e as rosas partindo o ar
Nova Granada de Espanha e as rosas partindo o ar.”
(“Corsário” - João Bosco/Aldir Blanc)