Mensagens de outros mensageiros



Desde que fiquei sabendo que eu iria embarcar, passei a varrer a internet para procurar informações das mais variadas: páginas de ex e atuais tripulantes; sites de dicas para crew; comunidades; referências sobre bell boy (raríssimas por sinal [por isso criei este espaço].); entre um milhão de outras informações (que, vocês sabem, são muitas mesmo)!

Entre contatos de contatos, cheguei à Vanessa Cunha, da cidade de Santos, que dava aula numa escola de idiomas na mesma Cidade. Minha amiga do trabalho, Carol Binato, indicou-me para recorrer a ela, pois havia atuado recentemente na recepção do navio Opera da MSC e poderia me dar muitas boas dicas, pois é um setor bem próximo de onde eu, bell boy, atuarei.

No último dia 6 de agosto, após muitos e-mails trocados, fiquei sabendo que a Vanessa foi chamada para um novo contrato (convocação essa, acredito, que tenha sido inesperada para ela, pois estava como professora de inglês em terra). Sua missão: um novo contrato a ser cumprido desta vez no Musica! O mesmo navio gigante que eu irei em 25 de outubro. E ela acabou escrevendo para mim:

"Oi!

Desculpa a demora para te mandar uma mensagem (você vai entender como é isso, quando vier pra cá!!!).
Acho que você vai gostar do Musica, Eli, eu estou adorando!
Tem dois bell boys brasileiros aqui – o Marcelo e o Luiz. O Luiz já está há 10 meses e falou que vai te ensinar tudo!

Beijos, estamos te esperando a bordo!"

O recado foi direto, mas teve um significado especial. Foi diferente, pois é uma mensagem de alguém que está a bordo agora, que está no setor onde atuarei, com pessoas com quem certamente irei trabalhar junto! É uma loucura me imaginar nesse cenário (que louco: ela disse "estamos te esperando!").
Pois é, para mim, às vezes, sinto que a ficha ainda não caiu. Mas é questão de tempo e isso cada um tem o seu: o tempo, o momento! Certos e sábios! Acho que só me darei conta, quando estiver entrando no gigante, rumo ao trabalho!



Falando de dicas, deixo aqui algumas que encontrei nessas minhas visitas a sites, conversas por e-mail e contatos gerais (lógico, voltadas ao cargo de bell boy, principalmente):

-É preciso ter paciência na temporada brasileira: os brasileiros não estão tão habituados a viajar de navio e, por isso, ficam muito perdidos e são muito exigentes, pois acham que o navio é igual a um hotel e que eles têm direito a tudo (sabe a lei do “tô pagâââno?”)...;

-A diferença entre o Opera e o Musica é que o Musica é muito maior, por ser mais novo que o Opera. Os navios maiores tendem a ser ruins por causa da organização (é a mesma regra do nosso quarto: quanto maior, mais espaço para acumular bagunça e/ou também mais espaço para ser limpo/organizado/arrumado);

-O bell boy é o mensageiro do navio: tudo relacionado a envio de mensagens, impressão do jornalzinho do dia e cópia de documentos é ele quem faz. Por isso, se vai estar sempre andando pelo navio, além de conhecer todos os pontos dele, inclusive a ponte de comando;

-Os bell boys ficam no Print Shop, um lugar cheio de impressoras. Quando são poucas cópias a recepção mesma é quem faz, mas quando são cópias em grande quantidade, os bell boys as fazem. Todas as mensagens que são entregues nos quartos são impressas por bell boys:
*jornal do dia
*jornal das excursões
*promoções das lojas; spa etc
*mensagem para entregar documento na recepção;

-Depois de impressas as cópias, os bell boys também entregam para os camareiros colocar nos quartos;

-Na recepção há uma caixinha com o escrito "Bell Boy". As recepcionistas colocam nessa caixinha mensagens para entregar num determinado quarto, recibos, entre outras coisas a serem entregues em outros setores do navio. Essas coisas sempre cabem ao bell boy entregar;

-À noite, para impressão do programa (jornalzinho com notícias do navio, de roteiros do dia seguinte e etc), uma pessoa que atua na função de “program hostels” entrega a via original e os bell boys imprimem a quantidade de cabines do navio. Depois de prontos, os programas são colocados na mesa, onde os camareiros pegam a quantidade de cabines da sua seção, e as colocam por debaixo da porta do passageiro (nenhum camareiro pode terminar seu serviço sem antes entregar o programa do dia seguinte nas cabines dos passageiros E nenhum bell boy pode dar o expediente por encerrado, antes de imprimir o tal programa). Há dias em que a “program hostels” elabora o programa tarde demais e libera as originais por volta da meia-noite (esta será uma noite de muito estresse, pois por volta de 50 camareiros precisam desse programa pra dormir e eles acham que a culpa da demora é do bell boy!);

-É possível conseguir sair umas horinhas pra conhecer os lugares sim: com o tempo acostuma-se a só ter 3 horas pra passear, mas mesmo assim, dá tempo de fazer muita coisa;

-Entre os piores erros que um bell boy pode cometer é não saber onde fica um setor no navio, pois isso quer dizer muita demora para entregar a mensagem. Não obedecer a um pedido; demorar com esse pedido; em caso de emergência, não chegar a tempo; não estar com seu bip a tira colo; um bell boy NUNCA pode demorar demais na entrega de um pedido. Uma coisa é certa: o bell boy tem de ser sempre rápido. Há quem diga que andar pelo navio durante o dia todo pode até entediar (depende de cada um [eu não acho{eu acho}]);

-Lado positivo: o bell boy conhece o navio inteiro! Ele andará por ele também o dia inteiro, todos os dias. Outros pontos a favor e mais fáceis de administrar são horário de trabalho, pausas (break time), além de não precisar servir ninguém e nem limpar nada!;

-O dia do embarque (a cada inicio de cruzeiro) será de muito trabalho. O bell boy faz de tudo, por exemplo: se um passageiro precisa de cadeira de rodas, o bell boy leva a cadeira até o passageiro e o leva aonde ele precisar. Ainda pode precisar ajudar a instalar os computadores no check in. Enfim: ajuda todos;

-Pode ter certeza, você vai se divertir muito nessa função, porque o bell boy fica sabendo de tudo!;

-A cabine (sua casa) tem duas camas, um balcão, um armário e o banheiro. Todo o espaço é feito para duas pessoas: assim você vai ter um lado do armário, do balcão, do espelhinho do banheiro e etc. Detalhe: só pega a cama debaixo do beliche (as de cima são próximas do teto) quem chega primeiro na cabine, provavelmente você começa indo para a cama de cima;

-Entre principais conselhos que recebi (obrigado a todos), destaco um da
Cristiane Lucas de Castro:
“Curta bastante tudo o que você viver, haverá horas em que você irá sentir-se humilhado e pensará ‘não estudei tanto pra estar aqui escutando essas coisas’. Tudo vai valer a pena. O caminho pode parecer duro, um pouco escuro e sem janelas, você não verá muitas flores, mas no final, você vai entender que tudo o que você passou foi grandioso e só assim se sentirá lutador, guerreiro, senhor do seu destino, vai sentir que nada mais pode te abalar, afinal, se não caiu na maior dificuldade, não vai será uma chuvinha que te derrubará! Desejo-te muita boa sorte e uma cabine com janela. Curta, curta e curta cada break time que você tiver, cada crew party (festa semanal para os tripulantes), curta cada Buzios, Salvador, Ilha Bela. Tudinho! Quando você por os pés no crew mess (refeitório dos tripulantes), com certeza vai achar que não aguentará até o final do contrato: BOBAGEM! Você aguenta: NÃO desista nunca!”.




É isso: mais um e-mail extenso, porém, com dicas que podem ser valiosas (vindas de quem já passou por isso) para pessoas que, como eu, estão prestes a embarcar em sua primeira viagem, rumo ao trabalho em navio!

Success!

Fotos: Masterfile
Marcadores: | edit post
6 Responses
  1. Carol Binato Says:

    ADORO LER SEUS TEXTOS!!!
    Principalmente agora, neste momento de expectativas e mudanças!!
    Quanto mais eu leio, mais sinto uma imensa vontade de arriscar pelo mesmo caminho ue você começa a trilhar Eli!!
    SERÁ?! Eu? Bell Girl?
    Quem sabe né?!
    Beijos


  2. ahoy! Says:

    ‘não estudei tanto pra estar aqui escutando essas coisas’. isso é verdade. a gente sempre pensa isso. a gente demora pra pensar em voltar pra casa, mas quando pensa a primeira vez, pensa sempre a partir dali.

    e o navio é um hotel sim. os passageiros sempre podem tudo. não sei na MSC, mas na Princess vale a lei do "never say no".

    e é muito louco de pensar no "estamos te esperando". me passava o mesmo. era difícil imaginar pessoas lá, e eu aqui. da mesma forma que será difícil imaginar as pessoas aqui quando você estiver lá. e agora que já voltei, é difícil de igual maneira pensar que as pessoas que eu convivi intensamente diariamente, ainda estão lá, vivendo essa loucura do dia a dia a bordo.

    e eu sempre odiei essas coisas de "você vai entender quando vier pra cá", mas tem horas que não tem como explicar mesmo. e pra várias coisas eu te diria "você vai entender quando chegar lá". eu odiava porque me dava agonia. eu queria saber como era, e não chegar lá pra descobrir. mas a gente chega lá e descobre. e com uma facilidade/rapidez incrível. como eu disse, é intenso. tudo é muito intenso. os sentimentos, as reações, os movimentos, a vida. é tudo rápido e intenso. você vai se sentir em casa muito rápido. você vai conhecer o navio de ponta a ponta muito rápido. vai se perder todo minuto durante uma semana. mas depois disso, vai andar por ele de olhos fechados. e vai se sentir orgulhoso quando ensinar um caminho tão simples para um novo tripulante, que está achando tudo aquilo muito complicado.

    que bom que você terá paisanos (conterrâneos) na mesma função. eu não tive. em todo navio eram em torno de 5 brasileiros, em funções distintas. pouquíssimo!

    boa sorte!


  3. ahoy! Says:

    "Não há nada como regressar a um lugar que está igual para descobrir o quanto a gente mudou".

    essa era outra coisa que me deixava agoniado. eu sabia que ia mudar, e tinha medo de pensar como eu voltaria pra casa. que tipo de pessoa eu me tornaria? que tipo de mudanças seriam essas? como eu iria conviver com meus amigos? com minha família? eu mudaria pra melhor ou pra pior?

    sei lá. a gente não percebe, mas a gente muda. e só descobre quando chega em casa, como diz Mandela na frase citada.

    e se é que eu posso dar alguma dica: não ouse economizar euros pra conhecer algum lugar. quando parar em Civitavecchia, vá à Roma. quando parar em Livorno, vá à Pompéia, à Pisa. se parar em Alexandria, vá até Cairo. é um gasto monetário, mas um investimento cultural tremendo. tu não vai se arrepender. pelo que entendi, tua aventura é muito mais cultural do que monetária, assim como foi pra mim. gastei muito dinheiro nesses "tours", mas não me arrependo nenhum pouco.


  4. Gostei muito do seu blog...viu. Vou te linkar ao meu blog...pois, quero voltar outras vezes.

    abraços


    Hugo


  5. É vero, Carol! A vida é isso: nunca dizer nunca para as coisas. Arriscar é mesmo preciso. É vital!!
    Beijo!!!

    Hey Marcos! Muito, muito obrigado pelas palavras sábias e experientes!
    Realmente agora é um misto muito grande de sentimentos, diante de um mundo TOTALMENTE novo para mim! Vou mesmo aberto ao que me aparecer, sobretudo para conhecer, ter contato e vivenciar! Obrigado pelas dicas e pelas palavras. Realmente eu já sinto que tem coisas que somente saberei/entenderei quando estar lá!

    Abração pra você e ótima semana por aí!


  6. Graaande eLi:

    1) o blog "do mar" ficou muito bonito, com alguns detalhes de arte sensacionais

    2) esperamos que você viva muitas aventuras e traga muitas experiências de vida pra compartilhart aqui com a gente

    3) sempre mande "messages in the bottle"