Vazamentos dentro do navio

Dizem que somente os navios da MSC é que apresentam problemas. Na verdade não é assim. Grande parte dos barcos sofrem algum tipo de pane, vazamento ou outro problema enquanto está no meio de um cruzeiro. A diferença está na grandiosidade do problema. Se pequeno, é resolvido sem os passageiros suspeitarem de sua presença. Se grandes demais, é precisso até cancelar o cruzeiro, como foi feito no MSC Musica, semana passada.

No Victoria, que é muito velho, ocorriam muitos vazamentos. Muitos. Só no bar onde eu estava tivemos muitos problemas deste tipo que se agravavam e vinham à tona quando o barco começava a tremular com o agito das ondas.
Uma das piores foi ter água negra caindo do teto, direto na estação onde colocávamos os salgadinhos para o aperitivo que é servido ao passageiro, quando ele compra um drink. Desastre. E quem limpa??? Eu o bar boy. O cheiro denunciava que tudo vinha do alto, de alguma tubulação de esgoto, de repente do banheiro.

A última foi ver essa mesma água negra caindo, desta vez no restaurante que trabalhou a noite toda, para conseguir contornar a situação e repreparar as mesas molhadas, para o almoço do dia seguinte! Detalhe: neste dia ao mesmo tempo que vazava no restaurante, que ficava imediatamente abaixo do bar onde eu trabalhava, subia o mesmo líquido pelo chão do nosso bar. Então o efeito era: se eu jogasse água na minha pia, além de vazar tudo pelos ralos do bar, ia para baixo, atingindo o restaurante.

Imagens únicas

Começo a postar aqui meus videos feitos durante a temporada na europa.

Na última segunda-feira, dia 16 de dezembro foi lembrado o dia de Santa Luzia (± 283 - † 304).
Aproveitando, começo a postar meus vídeos da temporada do navio, por este, que fiz na Igreja de São Jeremias, em Veneza, onde lá encontrei, em exposição, a tumba da santa. O corpo foi levado para lá no ano de 1.204 (!!!). É possível visualizar suas mãos e seus pés, com ossos expostos, semelhantes a gravetos. O rosto, claro, é coberto. Fiquei admirado e impressionado com a imagem, que pode sim, ser considerada conservada, mesmo depois de muito, muito tempo.
De acordo com a igreja católica Luzia foi muito religiosa e decidiu não se entregar a homem algum. Estava prometida a um homem rico, mas não religioso. Recusou ele e ainda sugeriu doar o dote aos pobres. O homem, rejeitado, entregou ela para uma autoridade na intenção de que ela sacrificasse sua virgindade em nome de deuses pagãos. Recusando, foi perseguida, presa. No auge das negociações, ela perguntou o que tanto chamava atenção nela, para que todos a quisessem. Citaram seus belos olhos. Na prisão ela pede uma bandeja de prata, arranca seus olhos e os dá aos pagãos em sinal de "Não era isso que querias. Agora os tens", além de mostrar que sua vida, seu corpo, seus votos, pertenciam a um só Deus. Foi morta, decaptada, mas seguiu o que sempre quis, sua fé.

Eis o vídeo:


1 mês d.C.


Bairro Quietude, Praia Grande, São Paulo!
Um mês depois da Costa! Um mês em casa, três sem escrever aqui.

Uau!
Voltei, completados meus oito meses e duas semanas de contrato no Costa Victoria.
Oito meses trabalhando TODO-O-SANTO(NEM TÃO SANTO ASSIM)-DIA! Mesmo quando fiquei muito doente (postei aqui), mesmo quando quis ter uma folga para ir numa festinha a noite. Sempre.

Voltei com todas expectativas cumpridas. Fui preparado para o pior e o pior, de fato, não veio. Enfim, fui muito focado, e, por conta disso, sei que voltei consciente de que a experiência realmente valeu a pena.

Idiomas

SIM, pude melhorar sim, meu inglês, sobretudo o que diz respeito à dinâmica de pensar em inglês. A coisa chegou em um nível tão absurdo, que eu falava em castelhano (espanhol) com meu chefe ao telefone e ao mesmo tempo interagia com alguém em inglês na minha frente, reportando algo que ele me perguntou. Ao mesmo tempo. Aí vi o segredo - estar no ambiente que fala outra língua ajuda e muito. Pois você tem de falar se quiser interagir. Não é como no Brasil, onde se tenta, mas sempre temos a segurança do português para recorrer, quando a coisa não flui. Era automático, o cérebro mudava a chave do idioma e logo eu estava pensando na língua. De verdade!
Então, voltei com meu inglês bem legal, fluente não, pois não lidava com nativos (norte-americanos somente passageiros), mas eram todos caras de outros países que falavam inglês, cada um com seu sotaque. Este é o lado chato, pois seu acento acaba dando uma piorada e quando você percebe está falando uma palavra mau entonada ou com acenturação errada. Mas ganhei vocabulário e rapidez na compreensão e conversação. Voltei com meu espanhol bem melhor, pois tinha amigos e chefe latinos, então, claro que eu não falava em inglês com eles, mas em portunhol. Voltei ainda com o italiano. Compreendendo bem e falando mais ou menos. Melhorarei isso aqui. E ainda, me joguei no francês, chegando a me comunicar com passageiros, mesmo falando quase nada. Isso também vou continuar aqui!

Lugares

SIM, visitei muitos lugares durante esses oito meses. A ponto de enjoar e não querer mais descer nas últimas semanas. Claro, houve lugares que não foi possível descer, mas voltei satisfeito por onde passei. Nessa parte, posso dizer que tive sorte grande, que não terei em outro contrato. Eu trabalhei a vida toda no mesmo bar, no mesmo horário, diferente de muitos que são mudados e pedem para mudar o tempo todo. Isso facilitou, pois eu era responsável por fechar o Grand Bar, o principal do navio, como todos sabem por aqui. Isso quer dizer que eu iniciava meu dia de trabalho sempre, sempre ao meio dia. Sempre. E na temporada inteira, o roteiro era sempre o mesmo, sete dias de cruzeiro que se repetia toda semana. E quase todos os portos eram de manhã, tipo das 8h às 14h em média - o que quer dizer que eu, tendo a manhã livre até o meio dia, sempre tive espaço e tempo suficientes para sair e aproveitar. Enfim, sorte mesmo.

Tempo a bordo

Realmente ter tempo para fazer o que gosta a bordo é complicado. Mas você deve se adaptar. Eu tentei fazer aulas de italiano e não consegui conciliar os horários. Desisti e fui aprender com os passageiros e próprios tripulantes, falando. O tempo que eu dediquei pra mim, era sempre depois que eu acabava o expediente, depois das duas da manhã. Como eu tinha de pegar no batente ao meio dia, não pesava tanto para mim ficar acordado até mais tarde. Nessas horas, via filmes que pegava no padre. Vi mais de quarenta filmes. Menos do que eu queria, mas valeu. Isso porque passei a fazer algo de tarde que eu não fazia. Usava sempre minha folga da tarde para comer e fazer algo, mas nas últimas semanas, passei a comer e ir direto dormir. Não pude resistir a isso. O sono passsou a ser revigorante para fechar o bar até tarde. E depois, deixei os filmes da madrugada, pelas festinhas na cabine de amigos, pois no final, os brasileiros começaram a voltar e era inevitável termos festas e reuniões até tarde da noite. Valeu. Pude aproveitar tudo dessa maneira. Tempo cada um tem o seu. No meu cas e na minha função, tive tempo fixo sempre, mas outros têm tempos diferentes a cada semana. Alteração sempre. Isso cada um é quem diz.

Não pude fazer

Por conta de começar e terminar tarde, eu definitivamente não tive vida social a bordo. Todos me conheciam como aquele que nunca ia às festas semanais no bar de tripulantes. Mas foram consequências do meu foco. Meu objetivo era descer nos portos, então, ficar no bar até as duas da manhã valia a pena, sabendo que teria a manhã livre para sair. Outros, porém, abriam o bar às seis da manhã e acabavam às dez e meia da noite, podendo se arrumar e ir para as festas noturnas. Com isso, sem ir às festas, eu não era tão conhecido, tão visto e, consequentemente, não me relacionava com tanta gente (ficar, namorar..etc). Mas fez parte. Um ponto positivo é que não gastava com bebidas no bar, como muitos loucos faziam. Enfim, preferi assim. Questão de foco. Mas que era triste, era, sim, triste. Triste não - depressivo. Era depressivo toda a semana planejando adiantar as coisas, na esperança de que, quando chegasse a quinta-feira, pudesse largar cedo no bar e correr para o bar dos tripulantes, sempre com baladas e festas temáticas. Perdi isso. Perdi festas a fantasia, festas ao dia da independência de países (só fui na do Brasil e da Índia, esta última, a melhor) e deixei de expandir meus contatos, restringindo àqueles que via no meu setor e outros que por acaso me aproximava.

Voltar pro navio??

Logo que cheguei até pelo menos completar quatro meses de contrato, eu jarava que não voltaria. Nunca mais. Isso pelo estresse, por tudo que passei de dificuldades até ali. Depois disso, tudo foi ficando rotina e nada mais era um peso para mim. Acostumei-me a tudo e comecei a pensar que era possível sim pensar em um retorno. Um mês antes de acabar o contrato já estava fazendo planos de como, onde e quando pretendia voltar. Terminei o contrato sabendo que quero voltar para mais uma temporada e basta. E assim está sendo. Estou há um mês em casa e esperando contato do meu agenciador. Pretendo retornar para fazer mais um contrato e parar. Mais para reforçar a experiência e conhecer outro lado da Europa. Quero antes, se possível, fazer aulas de francês. Espero que estes planos sejam possíveis e quem sabe, embarcar depois de um ano aqui. Até lá, trabalharia aqui e depois embarcaria. Enfim. Planos e possibilidades!

Muita coisa queria ter dito aqui, mas esqueci. Vou dizendo aos poucos e, se houver, conforme perguntas de leitores.

RESUMINDO

Fui, trabalhei, ralei, sofri, mas curti (e muito) e SIM volto de novo. Se tudo dê certo para que isso ocorra, voltarei sim.

Obrigado

A todos os que acompanharam meus relatos por aqui, àqueles que mesmo tendo bastante dúvidas que já estavam respondidas em posts anteriores, deram uma palavra de incentivo e a todos todos que de alguma forma entraram e deixaram uma energia positiva. Acreditem, isso faz a diferença para quem está lá!